A palavra convence; o exemplo arrasta! Considerando
esta frase e os desmandos com o uso dos recursos públicos é que decidi postar,
neste espaço, a biografia do ex-governador do estado do Rio Grande do Norte José
Augusto Varela. Um homem que teve seu governo marcado pela honestidade e
zelo no trato do dinheiro público.
José Varela foi eleito pelo voto popular pelo povo
potiguar em 19 de janeiro de 1947, através do voto popular e direto. Assumiu o
governo a 31 de julho de 1947 e governou até 31 de janeiro de 1951, quando o
cargo para o mossoroense Jerônimo Dix-sept Rosado Maia.
O governador José Varela administrou o Rio Grande
do Norte como se cuidasse dos recursos da sua própria casa. Na sua gestão,
ninguém ousava esbanjar dinheiro ou gastar mais do que o necessário. Seus
adversários e até alguns amigos não toleravam o seu zelo excessivo com o
dinheiro público. Mas ele se manteve assim até o último dia do seu mandato.
Quando nem se falava em austeridade, ele já dava o exemplo de como lidar com o
dinheiro público sem esbanjamento e gastos desnecessários. Nestes tempos de denúncias,
corrupção, escândalo e superfaturamento,quando o Poder Público está na
berlinda, e a opinião pública, de olho nas compras e gastos do governo, é bom
lembrar, até para servir de exemplo às novas gerações, o nome do ex-governador
Zé Varela, eleito após a redemocratização do País, em 1946. Seu governo
foi marcado pela austeridade, honestidade e zelo no trato do dinheiro público.
Austeridade
Estatura mediana, cabelos grisalhos, bem penteados
para trás, óculos “ray-ban” escuros, com seu temperamento controlado pela ioga,
foi assim que eu conheci José Varela, no repouso da sua casa no Tirol, ao lado
de D. Conceição, sua mulher, falando sobre o passado e o seu governo, que foi
um dos mais severos da história política do Rio Grande do Norte. Quando era
governador do Estado, não permitia que seus filhos usassem carro oficial.Usavam
o seu particular. E nenhum deles tinha coragem de desobedecer à ordem do velho
José Varela. Mordomia, nem falar. Em casa, as refeições eram de uma família
comum de classe média. Sem ostentação. Homem simples,gostava da comida caseira
do sertão.
Carneiro Assado
Durante seu governo, o presidente Eurico Gaspar
Dutra foi convidado a vir ao Rio Grande do Norte. O senador Georgino Avelino,
com seu gosto requintado, comprou uma caixa de vinho francês para o almoço que
seria realizado no Grande Hotel. Ao ser informado do custo da caixa de vinho e
do almoço, José Varela tomou uma decisão drástica:- Ele vai almoçar na
minha casa um carneiro assado, que vou trazer da minha fazenda. O Estado não
pode fazer este tipo de gasto supérfluo. Ele vai comer aqui o que eu como todo
dia. E o senador Georgino Avelino, que comprou ovinho, que pague a conta.
O governador contou este episódio numa longa entrevista que concedeu ao “Diário
de Natal/O Poti” e acrescentou: “O presidente Dutra achou ótimo o almoço
caseiro e não se cansava de elogiar o carneiro assado que comeu. Apenas
Georgino passou alguns meses sem falar comigo. Eu disse ao presidente:
“num Estado pobre como o nosso, ninguém tem o direito de fingir que é
rico. O senhor comeu hoje o que eu como todos os dias”.
Quando terminou seu mandato, no outro dia retornou
a Macau, onde, reabrindo seu consultório médico, reiniciou sua vida
profissional. Lá era simplesmente o Dr. Varela, o amigo de todos, que conhecia
as ruas e os becos da cidade como a palma da sua mão. Era o único meio de vida
que tinha para sustentar a família. No seu governo, foi iniciada a construção
do moderno Quartel da Polícia Militar e implantada a Escola Agrícola de
Jundiaí. Seus amigos do velho PSD (Partido Social Democrático) de Mossoró
depois ele foi o fundador do PDC (Partido Democrata Cristão) no Rio Grande do
Norte reuniram-se sob o comando de Duarte Filho e recolheram dinheiro para
comprar um carro que lhe foi dado de presente.
O carro foi um Plymouthamericano. Seis meses
depois, José Varela reúne os mesmos amigos e, em dificuldades financeiras, diz
o seguinte: “Não posso manter o carro que vocês me deram. Por isso, vim
devolver o presente que recebi dos amigos”. O carro foi comprado pelo
médico Duarte Filho. Apesar do seu jeitão ríspido, José Varela foi deputado
estadual, presidente da Assembléia Legislativa, prefeito de Natal, deputado
federal à Assembléia.
Constituinte, em 1946, governador do Estado e
vice-governador. Encerrou a vida pública como conselheiro do Tribunal de Contas
do Estado, nomeado pelo governador Aluízio Alves. Exerceu cargos legislativos e
executivos como se estivesse cumprindo uma missão. Um exemplo de homem público
para as novas gerações. Um homem público que morreu com as mãos limpas. Nasceu
em Touros, em 20/11/1896, e faleceu em Natal, em 14/06/1976.
FONTE – BLOG RAFAEL FERNANDES
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